24 Horas de Le Mans com final épico!
A 84ª edição das 24 Horas de Le Mans ficará na história como uma das mais épicas (senão mesmo a mais épica) edições de sempre da clássica prova francesa. Porsche e Toyota lutaram taco-a-taco ao longo de 24 horas pela tão cobiçada vitória e a marca nipónica tinha tudo a seu favor: velocidade, consistência e fiabilidade. No entanto, a 5 minutos do final, foi precisamente este último ponto que ditou a sua derrota e entregou a vitória à Porsche. Um final de cortar a respiração!
Tudo iniciou-se durante as três sessões de qualificação, onde a chuva marcou presença e condicionou o desempenho das equipas oficiais e privadas inscritas para a prova francesa. O Porsche 919 nº2, entregue a Neel Jani, Romain Dumas e Marc Lieb, marcou o tempo de 3m19, registo esse que permitiu alcançar a pole position para esta edição das 24 horas de Le Mans.
Com a chuva a fazer a sua aparição durante os primeiros minutos da clássica prova francesa, pela primeira vez as 24 Horas de Le Mans foram iniciadas atrás do Safety Car, que permaneceu em pista durante cerca de uma hora. A partir do momento em que o Audi R8 LMS conduzido por Yannick Dalmas abandonou a pista, Porsche, Toyota e Audi iniciaram a “batalha” pelo degrau mais alto da prova francesa.
Se num primeiro momento, os Audi R18 ainda deram luta aos seus adversários directos, os problemas técnicos que foram surgindo ao longo das horas rapidamente deitaram por terra qualquer esperança da marca de Ingolstadt. Problemas no turbo no Audi R18 nº7 e problemas eléctricos no Audi R18 nº8 foram as causas apontadas pela equipa liderada pelo Dr. Wolfgang Ulrich.
A luta pela vitória resumiu-se então aos 919 Hybrid da Porsche e aos TS050 HYBRID da Toyota. Mas no campo germânico, alguns problemas técnicos também colocaram dúvidas quanto à continuidade em prova dos Sport Protótipos de Zuffenhausen. Já durante a noite, o Porsche 919 Hybrid nº1 rumou às boxes com problemas de sobreaquecimento no motor V4. Foram necessárias 3 horas para resolver este problema, colocando o 919 nº1 fora do pódio.
O Porsche 919 nº2 também não escapou a um susto: durante a noite, Neel Jani foi obrigado a rodar em pista apenas com energia eléctrica, depois de um problema técnico com o sistema híbrido do Sport Protótipo germânico. Após um reset, o 919 retomou o seu modo normal de operação com motor de combustão interna em pleno funcionamento. Após algum tempo perdido nas boxes, Neel Jani regressou à pista e retomou a luta pela 1ª posição.
Com o Toyota TS050 nº5 a liderar e o Porsche 919 nº2 na sua perseguição, as trocas de lideranças (37 no total!) sucediam-se a cada paragem nas boxes. Na terceira posição rodava o Toyota TS050 nº6, que foi protagonista de mais um momento “quente” da prova francesa: na 20ª hora de prova, Kamui Kobayashi teve uma saída de pista na curva do Karting, colocando o Sport Protótipo nipónico na gravilha. O tempo perdido para retirar o TS050 desta posição retirou-lhe, em teoria, qualquer hipótese de ascender à 2ª posição.
A luta resumia-se agora ao Toyota TS050 nº5 e ao Porsche 919 nº2. Com mais de um minuto de vantagem a cerca de 10 minutos do final da prova, tudo parecia decidido a favor da Toyota. Com a troca de pneus a 7 minutos do final da prova, devido a um furo lento, a própria Porsche admitia a derrota. Mas a 5 minutos do fim, o TS050 pilotado por Kazuki Nakajima perdeu potência após a primeira chicane na recta das Hunaudières.
O sprint final, num ritmo digno de um Grande Prémio, deixou marcas na mecânica do Toyota TS050. Um tubo de ligação entre o intercooler e o turbo ditou a falha deste último componente. O Sport Protótipo nipónico acabaria por parar na recta da meta, no que seria o inicio da última volta. Um rapidíssimo Neel Jani, incrédulo perante o dramático desfecho desta edição das 24 Horas de Le Mans, ultrapassou Nakajima e ascendeu à liderança da prova. 13 Kms depois, Porsche conquistava o seu 18º triunfo pelas mãos de Neel Jani, Romain Dumas e Marc Lieb.
Já o Toyota TS050 nº2 acabaria por terminar a derradeira volta apenas com potência eléctrica, completando-a em 12 minutos. Dado que os regulamentos impõe um tempo máximo por volta de 6 minutos, Anthony Davidson, Kazuki Nakajima e Sébastien Buemi foram desclassificados das 24 horas de Le Mans, um duro golpe após uma prova discutida ao segundo. Com este desfecho, o TS050 nº6, partilhado por Mike Conway, Kamui Kobayashi e Stéphane Sarrazin, ascendeu à 2º posição da classificação geral.
No degrau mais baixo do pódio terminou o Audi R18 nº8, dividido por Lucas di Grassi, Loic Duval e Oliver Jarvis. Numa edição em que estiveram fora da luta pelo degrau mais alto do pódio e terminaram a 12 voltas do vencedor, o resultado desta edição confirma os problemas do projecto R18, versão 2016, que já haviam sido sentidos nas anteriores provas do FIA WEC, disputadas em Silverstone e Spa-Francorchamps. O melhor LMP1-L, privado, foi o Rebellion R-One entregue a Nelson Piquet Jr, Nick Heidfeld e Nicolas Prost.
Entre os LMP2, a Alpine alcançou a vitória por intermédio de Nicolas Lapierre, Gustavo Menezes e Stéphane Richelmi. Filipe Albuquerque não teve a sorte do seu lado, sofrendo um problema de motor que levou a que perdesse muito tempo nas boxes devido a reparações. O piloto português acabaria por termina as 24 Horas de Le Mans na 10ª posição da categoria. Já João Barbosa foi o 13º classificado da categoria, tendo o resultado sido condicionado pelos erros do seu companheiro de equipa, Tracy Krohn.
Entre os GTE-Pro, a Ford conquistou a vitória com o modelo GT 50 anos após o seu primeiro triunfo com o GT40, nas 24 Horas de Le Mans de 1966. Numa disputa directa com a Ferrari, à semelhança da luta vivida durante a década de 60, os Ford GT foram mais rápidos e fiáveis que os 488 GTB de Maranello. Enquanto a AF Corse abandonou devido a problemas técnicas, a Risi Competizione manteve-se na luta até ao fim. O triunfo acabaria por ser conquistado pelo Ford GT nº68, entregue ao “homem da casa”, Sébastien Bourdais, ao norte-americano Joey Hand e ao alemão Dirk Müller. O último degrau do pódio foi entregue ao Ford GT nº69.
As polémicas com o Balance of Performance entre os GTE-Pro marcaram a semana de preparação das 24 Horas de Le Mans. Com restritores e pesos revistos após o dia oficial de testes, a Ford e a Ferrari apresentaram-se em Le Mans com uma vantagem competitiva visível relativamente à Corvette, Aston Martin e Porsche. Nem a revisão do BoP após as sessões de qualificação foi suficiente para reduzir o andamento dos GT e 488 GTB e alterar o resultado final.
Mas a polémica não se ficou por ai: protestos apresentados após o final das 24 Horas de Le Mans deixaram no ar uma eventual alteração da classificação entre os GTE-Pro. Enquanto a Risi Competizione apresentou um protesto contra o Ford GT nº68, devido ao excesso de velocidade na passagem das slow zones, a Ford não se ficou atrás e apresentou um protesto contra o Ferrari 488 GTB nº82, 2º classificado da categoria, alegando funcionamento incorrecto dos indicadores laterais de posição.
No final, a Risi Competizione sofreu um penalização de 20 segundos e uma multa de 5 mil euros. No campo da Ford, 50 segundos foram adicionados ao GT vencedor. Apesar destas penalizações, a classificação entre os GTE-Pro não sofreu qualquer alteração.
Nos GTE-Am, a Scuderia Corse levou o Ferrari 458 GTE à vitória. Rui Águas foi o segundo classificado, sendo o melhor representante lusitano nesta edição das 24 Horas de Le Mans. Já Pedro Lamy viu um problema crónico na caixa de velocidades do seu Aston Martin ditar o atraso na classificação. Antes disso, o seu companheiro de equipa Paul Dalla Lana já havia sofrido várias saídas de pista, hipotecando um bom resultado desta equipa.