A perda de um Herói: Niki Lauda
21 Maio 2019 - José Soares da Costa

Aos 70 anos, Niki Lauda faleceu devido a complicações de saúde vividas durante o último ano, decorrentes de uma gripe e consequente duplo transplante pulmonar. A história de vida do piloto austríaco é um exemplo para todos: renascendo das cinzas qual Fénix, após o tenebroso acidente no antigo traçado de Nurburgring Nordschleife, Lauda viria a sagrar-se tricampeão do Mundo de Fórmula 1 e tornar-se um ídolo para toda uma geração.

Uma infecção pulmonar em 2018, originada por uma gripe contraída em Ibiza, ditou um duplo transplante pulmonar e um período de internamento de dois meses. Após este longo período de recuperação, o tricampeão do Mundo de Fórmula 1 foi novamente hospitalizado no inicio deste ano, tendo surgido nas últimas semanas diversas rumores de que o agravamento dos problemas renais tinham levado à realização de dialises na Suiça. Não resistindo a mais esta batalha, Niki Lauda faleceu ontem rodeado da sua família.

Nascido a 22 de Fevereiro de 1949 em Viena, a história de Andreas Nikolaus Lauda é recheada de sucessos e conquistas, mas também de superação. Contra a vontade da sua família, com fortes raízes no sector bancário, o piloto austríaco enveredou por uma carreira de sucesso no automobilismo. Tudo começou com a participação em rampas ao volante de um Mini, tendo-se seguido um contracto com a equipa oficial da BMW nas viaturas de Turismo e participações em Fórmulas menores. O salto para a Fórmula 1 foi o próximo passo na sua carreira, contraindo um empréstimo para garantir um volante na March e Malboro-BRM. O regresso de Clay Regazzoni (antigo companheiro de Lauda na BRM) à Ferrari foi fundamental para a contratação do piloto austríaco pelo Comendador Enzo Ferrari.

Após uma temporada de 1974 onde a Ferrari regressou aos triunfos, 1975 foi o ano do título para Niki Lauda. Em 1976, tudo parecia encaminhado para mais um título mundial. O duelo com James Hunt animava as hostes, mas a dupla Ferrari/Lauda mostrava-se superior. Tudo viria a mudar em Nurburgring, onde uma falha mecânica no Ferrari 312T2 ditou um acidente grave e colocou Lauda entre a vida e a morte. Preso no meio das chamas, o piloto austríaco viria a ser resgatado por Arturo Merzario, Guy Edwards, Brett Lunger e Harald Ertl. A recuperação foi dura, mas Lauda regressaria 42 dias depois no Grande Prémio de Itália, ainda debilitado e ostentando ligaduras, conquistando a 4ª posição. Na última prova do ano, em Fuji, as fortes chuvas que se abateram eram um risco inaceitável para Lauda, levando ao seu abandono logo no arranque e consequente perda do título para Hunt.

Em 1977, ameaçado internamente pelo argentino Carlos Reutemann e pela indefinição de Enzo Ferrari, o “Computador” (alcunha dada pelos seus adversários devido à sua apurada visão estratégica) conquistou o seu 2º título mundial. No final da temporada, Lauda aceitou o convite de Bernie Ecclestone para integrar a Brabham-Alfa Romeo, onde permaneceu até ao Grande Prémio do Canadá de 1979. Farto de “andar aos círculos” (como disse à imprensa da época), o piloto austríaco abandonou imediatamente a Fórmula 1 e abraçou a sua paixão, a aviação comercial. Nesse capítulo, a criação das companhias de aviação Lauda Air, Fly Niki e Laudamotion foram marcos importantes na sua vida. Em 1982, pela mão de Ron Dennis, Lauda regressou à Fórmula 1 com a McLaren e conquistou o título de 1984 por meio ponto, no regressado Grande Prémio de Portugal, disputado no Circuito do Estoril. A sua última prova foi o Grande Prémio da Austrália de 1985.

Nos anos noventa o veterano austríaco regressou ao Grande Circo, como consultor da Ferrari. O início do novo século trouxe um novo cargo, chefe da equipa Jaguar, de curta duração. Mais recentemente, Toto Wolff trouxe-o para o seio da equipa de Fórmula 1 da Mercedes, onde assumiu o cargo de presidente não-executivo. A sua intervenção foi decisiva na contratação de Lewis Hamilton e na criação da estrutura que conquistou um total de 8 títulos mundiais e domina a Fórmula 1 na actualidade.

Niki Lauda deixa 5 filhos, Mathias, Lukas, Max, Mia e Christopher e a sua actual mulher Birgit Wetzinger.

À família e amigos, o DIREITA3 – Desportos Motorizados endereça as mais sentidas condolências.