Lola T97/30

A história da Lola Cars na F1 foi recheada de sucessos e alguns contratempos. No entanto, existe um carro que irá marcar para sempre o fim desse ciclo e  que é considerado por alguns, como o maior desaire da F1. Esse carro é o Lola T97/30 e foi construído pela equipa Mastercard Lola para participar no campeonato de 1997.

A construção desse carro começou em 1994, quando um projecto para um chassis radical  foi criado e  uma proposta para uma equipa oficial Lola foi lançada, para o campeonato de 1995. Para validação dessas intenções e para não repetir o desastre que tinha sido o Lola T93/30 (utilizado pela equipa BMS Scuderia Italia em 1993), um protótipo, o Lola T95/30, foi construído e testado por Alan McNish. No entanto, visto que os tempos marcados por esse protótipo tinham sido bastante fracos e desanimadores, em conjunto com a falta de fundos para financiamento do projecto, o mesmo foi arquivado.

No entanto, um ano depois (em Novembro de 1996), o projecto foi reactivado. Mesmo enfrentando uma patente falta de fundos (devido a vários anos problemáticos na F3000, com a concorrência cada vez mais feroz da Reynard), a Lola decidiu jogar a “cartada final” num financiamento através de um esquema planeado pela Mastercard. Esse plano consistia na criação de um clube Mastercard, ao qual os sócios se associariam e que teriam acesso a diversas regalias relacionadas com a equipa de F1 (Lola F1), sendo que os valores desse esquema rondariam os 35 mil dólares.Além disto, um contracto com a Ford para fornecimento de motores V8 Ford Zetec-R (garantindo unidades que tinham sido utilizadas pela Forti-Corse no ano anterior, mas que eram seguras ao nível da fiabilidade) tinha sido conseguido, juntamente com um contracto com a Bridgstone para fornecimento de pneus.

Inicialmente, este projecto previa apenas a inscrição da equipa no campeonato de 1998, dando assim um espaço temporal bastante alargado para construção e teste dos carros a utilizar. No entanto, a Mastercard pressionou a Lola para que a equipa entrasse no campeonato de 1997, apressando toda a preparação técnica da equipa. Como resultado, a equipa iniciou a construção do Lola T97/30 a 5 de Novembro, tendo apenas 3 meses  para se apresentar no GP da Austrália de 1997, com 2 carros competitivos…nunca tal seria possível, em tão pouco tempo.

Apesar da confiança da equipa e dos seus elementos no sucesso deste projecto,  havia alguns factos que denunciavam algum amadorismo no que concerne o desenvolvimento do carro, tal como o facto de o Lola T97/30 nunca ter sido testado num túnel de vento, por não haver tempo para tal. O Lola T97/30 foi oficialmente lançado a 20 de Fevereiro de 1997 (no Hotel Hilton, em Londres), deixando espaço apenas para um shakedown e pouco mais, antes de ser transportado para a Austrália, para a primeira prova do campeonato. No entanto, mesmo esse shakedown bastou para verificar que o carro estava sub-desenvolvido e era horrivelmente lento em comparação com os seus adversários.

Apesar disso, só após a chegada ao GP da Austrália é que se teve a confirmação da farsa: os carros pouco ou nada tinham evoluído do protótipo T95/30, as caixas de velocidades tinham bastante falhas e a aerodinâmica dos carros estava totalmente errada! Os carros não conseguiam ganhar tracção, quer através da mecânica, quer através da aerodinâmica, não conseguindo colocar os pneus na temperatura ideal de funcionamento. Os carros também tinham demasiado arrasto em linha recta, comprometendo a velocidade de ponta, mas ao mesmo tempo, não tinham aderência em curva, comprometendo também a velocidade em curva! Com todas estas falhas fundamentais, o carro tornou-se a piada do paddock…

No primeiro dia de treinos livres (Sexta-Feira), houve problemas para balancear os carros, resultando em tempos de 1m41s, tanto para Vincenzo Sospiri como para Ricardo Rosset (pilotos principais da equipa),  apenas uns 9 segundos mais lentos que o tempo mais rápido. No segundo dia, (Sábado), os carros ainda foram mais lentos, atingindo o 1m44s, 16 segundos mais lentos que o tempo mais rápido…Na qualificação, o tempo dos Lola andou pelo 1m42s, 13 segundos mais lento que o tempo mais rápido de Jacques Villeneuve. Os Lola T97/30 conseguiam ser inclusivé mais lentos que os F3000 mais rápidos do pelotão!

Depois desta performance medíocre, a Lola retornou a Huntington, para se preparar para a próxima corrida, no Brazil. Além disso, novas peças e maiores desenvolvimentos estavam previstos para o futuro, bem como um motor V10, desenhado pela Al Melling e construído pela própria Lola. No entanto, quando a data da 2ª prova chegou, os pilotos (que já tinham viajado para o Brasil) descobriram pelos jornais que o esquema de financiamento tinha fracassado e  tinha levado à bancarrota toda a operação. Visto que a Mastercard se recusava a financiar a Lola F1 e as dividas da mesma tinham atingido os 6 milhões de libras, esta foi obrigada a fechar portas e a entregar todo a material.

Posteriormente, a Lola Cars (empresa mãe da Lola F1) passou por tempos bastante complicados, entrando numa espiral descendente, de onde praticamente era impossível sair, até que Martin Birrane salvou a empresa da falência e a reanimou, estando esta presente nos dias de hoje nos Sport-Protótipos, onde tem projectos bastante interessantes e ambiciosos.

No entanto, toda esta operação serve para relembrar que a preparação cuidada é um dos pontos mais importantes da criação de uma nova equipa de F1 e que sem tal, nenhum projecto terá o sucesso devido.