Jules Bianchi: A injustiça do destino
No passado dia 17 de Julho, Jules Bianchi terminou a sua derradeira corrida, na qual lutava pela vida, tragicamente abalada durante o Grande Prémio do Japão de 2014. O jovem piloto de apenas 25 anos era, segundo o olhar atento e a experiência de muitos, um futuro Campeão do Mundo de Fórmula 1. O 9º lugar conquistado no Grande Prémio do Mónaco, ao volante de um medíocre Marussia Ferrari, faziam-no provar isso mesmo. Mas infelizmente, nunca se saberá se este destino estaria traçado para o piloto francês. Bianchi tornou-se a 25ª fatalidade na Fórmula 1, 21 anos após o desaparecimento de Ayrton Senna no Grande Prémio de San Marino de 1994.
A “febre das corridas” fazia parte do ADN da família de Jules Bianchi e foi com naturalidade que o piloto francês foi subindo degrau a degrau, todas as categorias no seu caminho rumo à Fórmula 1. Mas a tragédia fazia já parte da história da familia Bianchi: Lucien Bianchi, seu tio-avô e vencedor das 24 Horas de Le Mans de 1968, perdeu a vida no circuito de La Sarthe no ano seguinte, quando embateu num poste e o Alfa Romeo que pilotava incendiou-se. Já o seu avô, Mauro Bianchi, sofreu um acidente nas 24 Horas de Le Mans de 1968, tendo ficado gravemente ferido. Dada esta situação, Mauro deu por encerrada a sua carreira nos desportos motorizados.
Nos kartings, Bianchi foi vitorioso e na sua ascensão à Formula Renault 2.0, em 2007, conquistou o seu primeiro título num monolugar. O interesse de Nicolas Todt e a sua integração na ART Grand Prix no ano seguinte foi um passo natural, tendo Bianchi sido 3º classificado na F3 Euro Series e vencido o Masters F3 disputado no traçado de Zolder. Em 2009, dominou a F3 Euro Series com nove vitórias e ganhou por duas vezes no Algarve, durante a sua curta participação no campeonato britânico de F3. No final do ano, efectuou o seu primeiro teste ao volante de um Ferrari, em Jerez de la Frontera.
A GP2 foi o passo seguinte, tendo sido Vice-Campeão da GP2 Asia em 2011 e conquistado o 3º lugar no campeonato principal. Em 2010, havia sofrido um violento acidente no circuito de Hungaroring, onde fracturou uma vértebra e necessitou de uma intervenção cirúrgica. No entanto, não falhou qualquer corrida do campeonato. Para a temporada de 2012, Bianchi mudou-se de “armas e bagagens” para Formula Renault 3.5, onde integrou a equipa Tech 1 Racing. Nesse ano, foi Vice-Campeão e conquistou 3 vitórias (Silverstone, Paul Ricard e Nurburgring), tendo sido abalroado por Robert Frijns na última prova em Barcelona, numa altura em que disputavam o título.
Em 2013, deu-se a ascensão à Fórmula 1, através da Marussia. Como contrapartida da integração de Bianchi na Marussia e dada a ligação do piloto francês à Ferrari, foi acordado com a marca italiana o acesso às suas unidades motrizes. No entanto, antes da sua passagem pela Marussia, Bianchi já havia pilotado um Fórmula 1 durante os Grandes Prémios: o seu papel de piloto de reserva da Force India deu-lhe acesso às sessões de treinos livres de sexta feira. E foi precisamente nessas curtas aparições em pista que impressionou pela sua velocidade, facilidade de aprendizagem e ritmo constante.
Ao longo de 34 Grande Prémios ao volante dos monolugares da Marussia, Jules Bianchi lutou apenas por posições secundárias. No entanto, o seu futuro era risonho: fazendo parte da Ferrari Driver Academy e em virtude do talento que demonstrava em pista, muitos apontavam-no como o sucessor de Kimi Raikkonen na Ferrari. No Grande Prémio do Mónaco de 2014, provou isso mesmo: cruzou a meta na 8ª posição, mas uma penalização atribuída após a corrida atirou-o para a 9ª posição. Na retina ficou a ultrapassagem efectuada ao aguerrido Kamui Kobayashi em Rascasse, verdadeiramente nos limites. No entanto, no Japão tudo terminaria sem glória, nem brilho.
Como homenagem ao piloto francês, a FIA irá retirar o número 17 (escolhido pelo piloto francês) da grelha da Fórmula 1. Será uma simbólica lembrança de um talento que poderia ter alcançado o topo do mundo, mas cujo destino o fez partir cedo demais.
Até sempre, Jules Bianchi.
